Durante anos, Bill Gates foi uma das vozes mais estridentes do coro que anunciava o fim iminente do planeta.
Financiou pesquisas, estimulou pautas, abriu conferências — e, com a autoridade de quem ajudou a reinventar o mundo digital, tornou-se também um apóstolo da cruzada climática global.
Mas eis que, às vésperas da COP30 em Belém, o fundador da Microsoft desceu alguns degraus do púlpito ambientalista e escreveu um texto que soou como heresia entre os fiéis do catastrofismo: Three Tough Truths about Climate, ou, numa tradução livre, Três verdades difíceis sobre o clima.
O novo Gates — mais sereno, pragmático e humano — reconhece o óbvio que muitos se recusam a enxergar: o mundo está mudando, sim, mas não vai acabar amanhã.
E se há algo mais urgente do que zerar emissões, é garantir prosperidade. A miséria, afinal, é muito mais letal do que o dióxido de carbono.
O que ele propõe, sem pedir licença aos militantes do apocalipse, é uma inflexão moral e intelectual: não basta medir a febre do planeta — é preciso cuidar do paciente.
Gates escreve que limitar o aquecimento global a metas numéricas virou uma obsessão estéril, uma corrida de vaidades em torno de acordos inatingíveis.
Para ele, o foco deveria ser outro: fortalecer comunidades, investir em inovação, dar acesso à energia barata, criar sistemas de saúde resilientes e, principalmente, permitir que os países pobres cresçam.
“O bem-estar humano”, diz o magnata, “é a métrica que mais importa.” Uma frase que, dita por qualquer outro, passaria despercebida; mas, dita por Bill Gates, tem o peso de uma conversão pública.
Quem captou o alcance dessa guinada foi Xico Graziano, engenheiro agrônomo, ex-secretário de Agricultura de São Paulo e um dos mais respeitados pensadores do agronegócio brasileiro.
Em artigo publicado no Poder360, ele resumiu o impacto com precisão: “Bill Gates bagunçou o coreto da COP30.” E bagunçou mesmo. Porque ao defender a prosperidade como antídoto contra o colapso climático, o bilionário americano desmonta a narrativa que demoniza quem produz, quem planta, quem alimenta.
Graziano lembra que o agronegócio, há anos, é tratado como o vilão preferido dos arautos do caos ambiental — uma caricatura conveniente para quem precisa de inimigos simbólicos.
Mas a verdade, agora ecoando na voz de Gates, é outra: a prosperidade é a melhor aliada da sustentabilidade.
Países ricos cuidam melhor de suas florestas; agricultores com renda investem em tecnologia limpa; nações que produzem alimento não o fazem à custa do planeta, e sim em favor dele.
A reação foi imediata. Os sacerdotes do clima, reunidos em Belém, torceram o nariz. O artigo de Gates chegou como um copo d’água fria na fervura ideológica da COP30.
Afinal, se até o mecenas das vacinas e da filantropia tecnológica está pregando serenidade, como sustentar o discurso do fim dos tempos?
Em linguagem cifrada, Gates pede que se substitua o alarmismo pela eficiência. Que se pare de medir virtudes em toneladas de CO₂ e se comece a medir em qualidade de vida.
Que a luta contra o aquecimento global deixe de ser uma cruzada religiosa para voltar a ser uma causa racional.
É uma lição simples, mas poderosa: a humanidade não precisa ser salva do planeta — precisa ser salva de sua própria histeria.
Talvez seja esse o maior mérito da surpreendente reviravolta protagonizada por Gates: devolver à discussão climática a sobriedade que ela perdeu.
Porque prosperar não é pecado. Produzir não é crime. E querer viver melhor — com energia limpa, sim, mas também com emprego, renda e dignidade — é o verdadeiro caminho verde.
Bill Gates descobriu, enfim, o que o agronegócio brasileiro sempre soube: é possível alimentar o mundo e, ao mesmo tempo, preservar o futuro.
Bastava apenas um toque de lucidez — e um bilionário disposto a dizer o que ninguém mais ousava falar.
Caio Gottlieb