A partir de 2026, o cálculo do IPTU e do ITCMD passará a ser feito com base no valor real de mercado dos imóveis, e não mais nas tabelas defasadas que há décadas servem de referência. A mudança foi possível graças ao Cadastro Imobiliário Brasileiro (CIB), criado pela Lei Complementar 214/2025, e à integração com o SINTER, sistema que conecta cartórios, estados, municípios e Receita Federal.
Na prática, significa que imóveis em regiões valorizadas terão reajustes expressivos de tributação. Heranças, até hoje calculadas com base em valores subavaliados, também sofrerão forte impacto. O resultado é previsível: famílias de classe média, que já enfrentam o peso de juros altos, inflação e carga tributária crescente, terão de rever o orçamento — ou até vender parte do patrimônio para honrar as novas obrigações fiscais.
Trata-se de mais um capítulo da velha história brasileira: em vez de enfrentar privilégios, cortar gastos supérfluos ou rever subsídios bilionários, o governo prefere mirar justamente naqueles que, com sacrifício, constroem o país. A casa própria e a herança familiar, símbolos de segurança e de conquista, estão sendo transformadas em pesadelo fiscal.
É claro que a atualização dos valores imobiliários pode ser justificada sob a ótica da eficiência arrecadatória. Mas, feita sem travas, sem escalonamento e sem medidas de compensação, representa apenas uma transferência de riqueza forçada da classe média para os cofres públicos. O efeito pode ser devastador: imóveis encalhados no mercado, famílias descapitalizadas e o reforço da sensação de que, no Brasil, prosperar honestamente é um fardo.
O governo celebra a modernização tecnológica. Mas o contribuinte, mais uma vez, paga a conta.