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JUDICIÁRIO TORNOU CORRUPÇÃO uma atividade legal no Brasil
Politica
Publicado em 07/03/2025


Opinião 

Os ministros do STF, do STJ e das demais capitanias que governam o aparelho judiciário do Brasil, mais os crentes na sua natureza divina, não gostam de ouvir isso, mas o fato brutal, claro e acima de qualquer dúvida, é que a Justiça brasileira suprimiu o crime de corrupção do Código Penal em vigor no país. Não foi aprovada ainda nenhuma lei botando isso em letra de forma, mas é o que acontece para efeitos de ordem prática no Brasil que “voltou”. Não se trata de uma análise. Trata-se de uma jurisprudência cada vez mais “robusta”, como é moda dizer hoje, formada pelas sentenças assinadas pelos gatos gordos do sistema.

É duro dizer isso, mas também é a verdade “fática”, aí já se usando o patuá falado pelos ministros: o STF e seus derivados tornaram a corrupção uma atividade legal no Brasil. É claro que o sujeito tem de ser um corrupto rico para se beneficiar de proteção legal quando mete a mão no Erário. Mas como não existe corrupto pobre em lugar nenhum do mundo, pode-se dizer com segurança que as absolvições automáticas dadas pela Justiça brasileira nas ações penais pela prática de corrupção servem para todos os ladrões do Tesouro Nacional.

Não há exceções. Você é um “amigo dos amigos” e prova que roubou, com confissões espontâneas feitas na presença dos seus advogados? Então você já está absolvido, antes mesmo do caso ir a julgamento. Não é a mídia que diz isso, nem os “inimigos” dos nossos tribunais. Quem diz isso, oficialmente, são as sentenças que saem das altas cortes de Justiça deste país – e servem cada vez mais como exemplo para as cortes médias, baixas e assim por diante, até o mais modesto inspetor de quarteirão. É fácil resolver qualquer dúvida a respeito. Você consegue citar o nome de um único corrupto preso neste momento no Brasil, um pelo menos que seja?

Você não consegue, por uma excelente razão: não existe nenhum corrupto preso neste momento no Brasil. Nem o ex-governador Sérgio Cabral, que foi condenado a 400 anos de cadeia por ladroagem confessa, e está tão livre como você – mas com uma fortuna que você, que pagou imposto enquanto ele roubava, jamais terá no seu bolso. Se isso, e todos os casos de ladrões soltos, não é prova material da legalização dos crimes de corrupção decretada pela Justiça brasileira, o que seria?

 

O STF, STJ etc. etc. etc. estão pedindo que população acredite no seguinte despropósito: o Brasil é o país que tem os políticos e magnatas mais honestos do mundo. Não há ninguém preso por corrupção, certo? Então não há corruptos, pois se houvesse a nossa Justiça com certeza acabaria pegando algum larápio, pelo menos um – não é possível, do ponto de vista racional, que não consiga punir nenhum, nunca, ou que todos os corruptos que lhe são trazidos pela polícia são inocentes, sem exceção.

teologia política ora em vigor no Brasil estabelece que a prevaricação aberta do STF e seus inferiores no cumprimento da lei penal, com sua recusa sistêmica em punir a corrupção, é uma necessidade vital da sociedade brasileira. O STF e a “justiça”, reza esse credo, salvaram “a democracia” no Brasil. Continuam a salvar todos os dias, com a repressão destemida a “golpistas”, “extremo-direitistas”, bolsonaristas e mais do mesmo. Por conta dessas atividades, o “Judiciário” passou a ter, segundo a doutrina oficial, imunidade diante de qualquer crítica. Não importa se o STF tem razão, ou está grotescamente errado: criticar qualquer ministro é considerado um “ataque” ao sistema de Justiça, para enfraquecer a luta contra “o fascismo” e por aí afora.

Mas será que é preciso engolir – e engolir achando que está ótimo – a cada uma das aberrações que saem da mistura de “tribunais superiores” de Brasília? A resposta, para o regime vigente é: sim, precisa aceitar tudo, porque nenhuma delinquência que os supremos possam fazer está sujeita a qualquer apreciação externa, pois são a guarda da “democracia” e isso tem de estar obviamente acima de detalhes como a corrupção, a abolição dos direitos individuais e o cumprimento do que está escrito na lei.

Na sua última exibição de fogos de artifício para celebrar a roubalheira, o ministro João Noronha, nesta ocasião representando o STJ, decidiu entregar de volta aos desembargadores do Maranhão acusados de venda maciça de sentenças as joias, relógios e carros apreendidos com eles – e sob a suspeita de serem o pagamento que receberam para vender suas decisões. “Não tem mais utilidade para o processo”, decretou Noronha. Não é um ataque ao Judiciário: é o que o ministro fez na frente de todo mundo. Faz parte da jurisprudência, mencionada acima, que não apenas inocenta mecanicamente os ladrões de dinheiro público, como manda devolver a eles aquilo que roubaram – dos R$ 20 bilhões de indenização para a J&F e Odebrecht, aos iates, casas de praia e jatinhos de traficantes de narcóticos.

Para acrescentar mais uma joia à coroa, o ministro Dias Toffoli foi citado de novo como o grande padroeiro da corrupção no Brasil pela Transparência Internacional e a Comissão de Direitos Humanos da OEA. Seu feito principal é o desmonte agressivo de todo o sistema de combate à corrupção que havia no Brasil. É culpa da oposição, da direita ou das “fake news” que a coisa tenha ficado assim? Ou são, entre tantos outros feitos d’armas, suas extraordinárias decisões de anular as confissões de corrupção por parte da J&F e da Odebrecht? Paciência, porque eles estão decididos a tornar tudo ainda pior.

 

*Jornalista , em Gazeta do Povo, 06/03/25

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