Oito advogados foram presos no Ceará ao longo de 2025 sob acusações que vão de integração em organização criminosa a homicídio, extorsão e aplicação de golpes. Pelo menos cinco deles são investigados por envolvimento direto com facções criminosas, especialmente o Comando Vermelho (CV). Todos respondem a processos disciplinares no Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-CE, e parte está com a inscrição suspensa, ficando temporariamente impedida de advogar.
Uso da advocacia como instrumento do crime
As investigações apontam que alguns profissionais teriam utilizado a prerrogativa da advocacia para transportar bilhetes e mensagens clandestinas entre presos e membros de facções em liberdade — prática recorrente identificada pelas forças de segurança no Estado.
Operação “Além do Ofício”
Em junho, a Polícia Civil deflagrou a operação “Além do Ofício”, que apura um esquema de comunicação ilegal dentro do sistema prisional. Entre os alvos estão os advogados Monika Fernandes Portela e Victor de Alencar Magalhães, denunciados pelo Ministério Público por integrarem o CV e levarem bilhetes de líderes da facção presos no Ceará.
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Monika Portela já havia sido presa em 2023 e, em junho de 2025, foi condenada a 4 anos e 8 meses de reclusão por organização criminosa. Pouco depois, voltou a ser presa, com bilhetes apreendidos em sua residência.
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Victor de Alencar Magalhães ficou foragido até dezembro, quando foi preso em Iracema. Ele também é suspeito de transportar mensagens de Francisco Clever Carneiro Freitas, o “Careca”, apontado como liderança do CV no Norte do Estado.
Ambos estão com a situação “suspensa” no Cadastro Nacional de Advogados (CNA).
Suspeita de homicídio entre advogados
Outro caso de grande repercussão envolve o advogado Lucas Arruda Rolim, denunciado pelo assassinato do colega Sílvio Vieira da Silva, ocorrido no bairro Genibaú, em Fortaleza. Segundo a acusação, Lucas teria atraído a vítima para uma emboscada a mando do CV. A defesa nega envolvimento. O processo tramita sob segredo de Justiça, e o advogado também está suspenso pela OAB.
Outros investigados
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Raquel Estevão Beserra: presa no Cariri, suspeita de levar e trazer recados de presos.
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Miguel Fernandes Pessoa Neto: preso por suspeita de homicídio e apontado como envolvido em organização criminosa, além de fraude no monitoramento eletrônico. A vítima do homicídio seria um delator da facção Guardiões do Estado (GDE).
Extorsão e golpes
Também foram presos em 2025:
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José Lourinho Coelho, suspeito de extorsão em um caso de abuso sexual. Apesar de condenado em 1ª instância, foi posteriormente absolvido pelo TJCE.
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Laliani Correia de Arruda e Thaís Mendonça, suspeitas de integrar um esquema de golpes contra idosos, que teria movimentado mais de R$ 4,6 milhões. O processo tramita na Justiça de Santa Catarina.
Monitoramento de conversas em presídio
Como resposta ao avanço das investigações, foi instalado um sistema de captação ambiental na Unidade Prisional de Segurança Máxima de Aquiraz, com autorização judicial. A medida, solicitada pelo MPCE, é contestada pela OAB-CE, que a considera inconstitucional por violar prerrogativas da advocacia e o direito à ampla defesa.