Após quase uma semana foragido, o agente de telecomunicações da Polícia CivilRogério de Almeida Felício, o Rogerinho, se entregou à polícia em Santos, no litoral paulista, nesta segunda-feira (23/12).
Ele é apontado em investigação da Polícia Federal (PF) como membro de uma “quadrilha” de policiais, que supostamente atuavam em ações criminosas juntamente com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele também fazia, eventualmente, a segurança do cantor Gusttavo Lima.
A nota acrescenta que a força-tarefa criada para investigar o homicídio de Gritzbach segue em diligências para esclarecer o caso. “As corregedorias das polícias Civil e Militar colaboram com as apurações para que todos os agentes envolvidos sejam punidos conforme a lei.”
Na terça-feira da semana passada (17/12), o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) decretou a prisão temporária de Rogerinho, além do delegado Fábio Baena, do chefe de investigações Eduardo Monteiro, que atuaram no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
Atualmente com um patrimônio milionário, o agente de telecomunicações da Polícia Civil Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, cujo salário é de pouco mais de R$ 7 mil, é casado com Danielle Bezerra dos Santos — que, segundo o Ministério Público de São Paulo (MPSP), é viúva de um gerente do Primeiro Comando da Capital (PCC), morto em 2019.
Investigação da Polícia Federal (PF), obtida pelo Metrópoles, mostra que Felipe Geremias dos Santos, o Alemão, era um dos principais gerentes da facção nas regiões de Santo André e Mauá, na região metropolitana de São Paulo, além de São José dos Campos, no Vale do Paraíba. Ele arrecadava ao PCC, mensalmente, cerca de R$ 400 mil.
Apuração feita à época mostra que Alemão era o principal elo, nas ruas, entre Rabugento e Gordo, ambos responsáveis pela prestação de contas à cúpula encarcerada da maior organização criminosa do país.
O gerente foi preso em 2009, pela Polícia Militar, no momento em que participava de uma reunião com mais 17 integrantes do PCC. Ele foi denunciado pelo MPSP por associação criminosa, uso de documentos públicos falsos e corrupção.
Ele e Danielle ficaram casados até a morte do criminoso. Depois disso, a mulher se uniu ao policial civil Rogerinho. Ela foi incluída como sócia em empresas usadas pelo agente de telecomunicações para lavar dinheiro, como indicam investigações pautadas por relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Rogerinho é apontado pela PF e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPSP, como integrante de uma “quadrilha” de policiais — que agia em parceria com o PCC em atividades criminosas.
No último dia 17, com exceção de Rogerinho — que seguia foragido até a publicação desta reportagem —, todos os seus comparsas da Polícia Civil foram presos sob a suspeita de atuar em benefício do PCC e pelo suposto envolvimento no assassinato do corretor de imóveis Vinícius Gritzbach. Oito dias antes de morrer, Gritzbach havia delatado à Corregedoria da Polícia Civil o elo entre os agentes públicos e a facção.
Esposa e sócia
Após casar com a viúva do gerente do PCC, Rogerinho tornou-a sócia em uma clínica médica e em uma consultoria em segurança. Rogerinho também é sócio, sem a participação da esposa, em uma construtora e incorporadora, além de uma empresa de administração de bens.
Antes de ser assassinado, com dez tiros de fuzilno Aeroporto Internacional de São Paulo, em 8 de novembro, Gritzbach afirmou ao MPSP que Rogerinho furtou parte de seus relógios de luxo, com os quais aparece em fotos no Instagram em vários países, como Estados Unidos, Suíça, Grécia e Portugal. Nos registros de ostentação, ao seu lado está a viúva de Alemão
A vida de luxo do casal, como aponta relatório de inteligência financeira, resulta de “operações suspeitas” nas suas empresas. Em um mês, uma das empresas de Rogerinho e da esposa movimentou pouco mais de R$ 500 mil em 2020, “com indícios de recursos incompatíveis com o patrimônio”.
Também durante 30 dias, em 2021, a mesma empresa do casal movimentou R$ 854 mil, “valores incompatíveis com o faturamento mensal das pessoas jurídicas”, diz trecho do documento do Coaf, indicando suspeita de lavagem de dinheiro.